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Crise energética: como viver em uma casa fria afeta sua saúde

Jan 23, 2024

Nas manhãs mais frias, Mica Fifield dispensa despertador. A dor nas articulações a acorda. Suas pernas e joelhos doem mais. Deitada ali, ela sabe que há coisas para fazer em casa. Mas é difícil sair da cama. O aquecimento de sua casa geminada em Lancashire, Inglaterra, está desligado. Os radiadores adormecidos, presos às paredes, ficam ali, frios ao toque. Há condensação nas janelas. E a dor aumenta muito mais agora que o tempo está mudando.

"Não tocamos no aquecimento", diz Fifield, explicando como o preço do gás e da eletricidade subiu recentemente. Ela e o marido não sabem exatamente quanto custará para ligar o aquecimento e não podem se dar ao luxo de descobrir. Ela apenas diz: "Estamos com muito medo."

Ainda é o início do outono quando conversamos. E embora as temperaturas só caiam ainda mais nos próximos meses, o casal planeja manter o aquecimento desligado durante todo o inverno, se puder.

Fifield tem 27 anos e sofre de uma forma de síndrome de Ehlers-Danlos, que no caso dela causa dor crônica. Ela também tem outras condições, incluindo costocondrite – inflamação ao redor dos ossos do peito. Dá a sensação de que ela está tendo um ataque cardíaco, ela explica. Causa dor e a sensação de algo pesando no peito. Há alguns anos, ela planejava trabalhar com teatro físico e ensinar Zumba, mas tudo mudou com o diagnóstico. Ela está impossibilitada de trabalhar, mas recebe benefícios do governo enquanto seu marido trabalha meio período e ajuda a cuidar dela.

A crise energética que atualmente afeta a vida de tantas pessoas ao redor do mundo está afetando algumas das atividades mais fundamentais da vida. Quando Fifield vai para a cozinha fazer o jantar, por exemplo, ela raramente liga o forno – a airfryer consome menos energia. Fifield também se preocupa se ela será capaz de carregar sua scooter de mobilidade o suficiente para se locomover. Ela gosta de ir à piscina quatro vezes por semana, porque ajuda a aliviar as dores – e porque é onde ela pode tomar um banho quente.

Apesar desses desafios, Fifield não sente pena de si mesma, diz ela. Não é assim que ela vê sua situação. Mas ela diz que quer aumentar a conscientização sobre a dor crônica e como viver em uma casa fria pode torná-la muito pior.

A história de dificuldades e resiliência de Fifield é apenas uma entre milhões que provavelmente se desenrolarão neste inverno. Graças ao aumento das contas de combustível e eletricidade, muitas outras pessoas ao redor do mundo podem ser forçadas a fazer escolhas difíceis sobre quando, ou se, ligam o aquecimento.

Os idosos vão se enrolar em casacos, cachecóis e luvas para se sentar em suas salas de estar. Os pais vão se preocupar se seus bebês estão aquecidos o suficiente, pois adicionam um cobertor extra aos berços. As lareiras a gás ficarão apagadas. Aquecedores elétricos serão deixados, apreendidos, no fundo dos armários. Os casais discutirão se agora – agora! – é o momento de regular o termóstato e por fim acender a caldeira. Não há escolha. Mas também não há dinheiro para pagar por isso.

Mica Fifield sofre de uma forma de síndrome de Ehlers-Danlos, que é agravada pelo frio (Crédito: Mica Fifield)

Estima-se que 36 milhões de pessoas na Europa não conseguiram manter suas casas adequadamente aquecidas em 2020. Nos EUA, 16% do país sofre de pobreza energética, incluindo 5,2 milhões de domicílios considerados acima da Linha Federal de Pobreza. E na China, estima-se que 24-27% dos adultos de meia-idade e idosos vivam em pobreza energética.

Com o volátil mercado de energia elevando os preços e a possibilidade de apagões e escassez de gás se aproximando, principalmente na Europa, a situação pode se tornar ainda pior.

Embora os aumentos de preços sejam mais extremos na Europa, os consumidores dos EUA provavelmente não ficarão imunes aos custos elevados de energia. A Agência Internacional de Energia (IEA) alertou que o mundo está no meio de sua primeira "crise global de energia" - em grande parte desencadeada pela invasão russa da Ucrânia. Muitos milhões de pessoas provavelmente serão afetadas, mas o maior fardo recairá sobre os mais pobres e vulneráveis.